O Quinto Império
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.
Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa, in Mensagem
Triste de quem vive em casa,
Contente com o seu lar,
Sem que um sonho, no erguer de asa,
Faça até mais rubra a brasa
Da lareira a abandonar!
Triste de quem é feliz!
Vive porque a vida dura.
Nada na alma lhe diz
Mais que a lição da raíz --
Ter por vida sepultura.
Eras sobre eras se somen
No tempo que em eras vem.
Ser descontente é ser homem.
Que as forças cegas se domem
Pela visão que a alma tem!
E assim, passados os quatro
Tempos do ser que sonhou,
A terra será teatro
Do dia claro, que no atro
Da erma noite começou.
Grécia, Roma, Cristandade,
Europa -- os quatro se vão
Para onde vai toda idade.
Quem vem viver a verdade
Que morreu D. Sebastião?
Fernando Pessoa, in Mensagem
* * *
É preciso sonhar, é preciso que não nos sintamos cómodos e confortados com o que temos... Como seria bom se nunca nos sentíssemos ''cheios''. Foi o que acoonteceu aquando dos descobrimentos, aqueles homens e mulheres não se sentitam ''saciados'' com o que possuiam e decidiram partir em busca de algo mais... É certo que alguns nunca mais voltaram, D. Sebastião foi um exemplo, mas tomaram a iniciativa de partir. Para partir em viagem é preciso que nos desintalemos das nossas vidas, quebrar a rotina e ir mais além, porque enquanto formos vivos é sempre tempo de partir, não sejamos ''velhos do restelo'' que dizendo mal de tudo e de todos, passemos o resto das nossas vidas comodamente instalados com medo de iniciar uma nova aventura.
Que este tempo carnavalesco sirva para nos distrairmos um pouco, mas também para pensar um pouco mais nas nossas vidas, até porque não há só um caminho, há vários, basta descobrir e pode ser que nos surpreendamos com aquilo que encontrarmos...
Um abraço,
Comentários
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos
Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados
Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não
In: Manuel Freire
Este parte, aquele parte
e todos, todos se vão.
Galiza, ficas sem homens
que possam cortar teu pão.
Tens em troca órfãos e órfãs
e campos de solidão
e mães que não têm filhos
filhos que não têm pais.
Corações que tens e sofrem
longas horas mortais
viúvas de vivos-mortos
que ninguém consolará.
Rosalía de Castro
Tradução de José Niza
O nosso amargo cancioneiro, Livraria Paisagem, 1973 - Porto